terça-feira, 22 de julho de 2008

POR ONDE ANDA NOSSA CARA?


Outro dia estava eu folheando minha pasta com letras de músicas, e vi a foto de um rapaz com uma frase abaixo: EDILSON LOPES - EM CASO DE CONVOCAÇÃO.
Quem será esse rapaz? Faz idéia ele que está com sua foto impressa em meio a meu acervo musical? Um lugar importante pra mim, onde quase todas as músicas têm seu significado, mas ele, que significado tem ali?
Por onde será que andam as nossas caras? Estamos espalhados por aí, com apenas um click podemos fazer parte da vida de quem jamais vimos, se quer, sabemos que existem. Quantas pessoas têm guardado na memória o nosso rosto?
Fazemos parte de um arquivo morto-vivo.
Aceitamos a condição feita da pura imagem e semelhança, do rosto pelo corpo,da parte pelo todo. Perdemos o pudor, ganhamos confiança. Acreditamos, que estaremos presentes apenas na vida de quem nos interessa, afinal por que capturar a imagem de outro alguém, que não nos diz respeito? Mal imaginamos um amor platônico, uma idolatria, uma foto para embelezar o ambiente.
Tenho minha idéia, minha sugestão, meu conceito: estamos dentro da estética. A imagética tomou conta das reflexões, o que não é de todo mal. O estímulo às associações é uma necessidade. A TV não mais se faz necessária, pertencemos a "geração ponto com". Nos associamos, nós, a nós mesmos, nós às imagens, ao vetor, ao desenho, ao objeto, á pintura que quisermos. Ficamos confiantes, muitas vezes mais do que ao vivo e à cores com o outro.
Temos a necessidade constante de aparecer. Nossos pensamentos são metamórficos, logo, as imagens nos acompanham. As mudanças não param e no meio do caminho, fotos ficam para trás. O conteúdo progride? Regride? Estamos preocupados com o conteúdo? A verossimilhança corresponde à nossa real fotografia?
Afinal, por onde vão fiacando as nossas caras?

VIVER

"Compreendi que viver é ser livre...
Que ter amigos é necessário...
Que lutar é manter-se vivo...
Que pra ser feliz basta querer...
Aprendi que o tempo cura...
Que magoa passa...
Que decepção não mata...
Que hoje é reflexo de ontem...
Compreendi que podemos chorar sem derramar lagrimas...
Que os verdadeiros amigos permanecem...
Que dor fortalece...
Que vencer engrandece...
Aprendi que sonhar não é fantasiar...
Que pra sorrir tem que fazer alguém sorrir...
Que a beleza não está no que vemos, e sim no que sentimos... Que o valor está na força da conquista...
Compreendi que as palavras tem força...
Que fazer é melhor que falar... Que o olhar não mente...
Que viver é aprender com os erros...
Aprendi que tudo depende da vontade...
Que o melhor é ser nós mesmos...
Que o SEGREDO da vida é VIVER !!!”

quinta-feira, 10 de julho de 2008

CORPOS QUE FALAM

Começou de súbito
Estavam apenas ansiosos
O cheiro exalava naturalmente
Pequenos toques, delicados beijos
Carícias plenas, serenas, obscenas
Pararam. Começaram.
Buscavam pela libido
Era intenso. Os corpos se grudaram rápido
Proibido. Escondido.

Sucumbiam em gotas de suor
O local era fechado, porém exposto
O perigo servia de catalisador
Não pensavam, agiam.
Não falavam, gemiam.
Não questionavam. Sentiam.
O auge foi o tempo todo.
Lépidos. Ávidos. Trôpegos.

Prontos para uma próxima vez.

domingo, 6 de julho de 2008

"Nada me prende a nada.
Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja - Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irriquieto, metade a sonhar.
Fernando Pessoa em Álvaro de Campos - 1962

"Sempre pensei que optar fosse apenas escolher.

Escolher entre dois objetos, duas pessoas,
entre duas coisas de igual valor ou semelhantes.
Mas a vida foi ensinando...
Optar é antes de tudo renunciar,
e quantas vezes essa renúncia fica doendo,
pedindo, arrancando lágrimas, plantando saudades...
Viver é optar. Optar sempre, renunciar a cada momento..."
Pe. Roque Schneider

sábado, 5 de julho de 2008

ESCADA ROLANTE

Veja só que coisa mais estranha, é um elemento, uma gigante.
Note como as pessoas a perseguem, todos pacientes num mundo de caos e arquétipos, em que por alguns instantes, a aceitação é geral.
Somos tomados por uma paciência inóspita, passos lentos, olhares rápidos, o dia está só começando.
Durante o lento percurso não há discórdia, por um momento, naquele espaço há um objetivo uníssono. Olhares que se analisam, olhos que caminham de baixo pra cima e de cima pra baixo.
Um instante fora do ar. Etnias diversas, roupas, mãos diferentes, unidas por um vão ideal. Não pensam. Um movimento em série, automático e insosso. A massa se desloca, triste, como que ao caminho de um matadouro.
Os aromas enjoativos, as belas vestimentas, expressões. O contato físico e asqueroso dos corpos é obrigatório.
São levados até o topo. Poupam seus músculos e pernas. Alguns vivenciam minutos de pânico. E chegam.
Como se nada houvesse ocorrido, as mulheres batem o salto, as maletas executivas se esbarram e outros objetos pessoais tornam a ganhar vida.
A semiologia, a verdade para cada um reaparece. Alguns continuam perdidos, mas andam a passos largos, do contrário serão sucumbidos pela massa.
Viu só que coisa estranha? Um elemento, uma gigante. É essa escada rolante.
E o ciclo recomeça.

PARLIMPSESTO

Parlimpsesto é um pergaminho, um nome chique para papel, que foi escrito e raspado para ser escrito outra vez. Palavras que se reescrevem nas linhas intermediárias do primeiro texto ou em sentido transversal. Seriam então as entrelinhas?
Quantas vezes não fazemos raspagens em nós mesmos? Dizem que a vida não é um pedaço de papel, que podemos, rasgar e jogar fora. Ouvi também que a vida é um livro e somos livres para escrevê-lo à maneira que desejamos.
Por que temos necessidade de dar nomes rebuscados às experiências? Não seriam elas parte de nós? Por que não deixá-las transparecer? Tememos os borrões?
As entrelinhas não fazem parte do parlimpsesto. Estarão sempre presentes.Gostamos do mistério, das insunuações.Por que então temos medo de buscar o novo? Será que nos apoiamos em demasia nos fechos e desfechos de nosso texto?
Deixar levar, sem pretenções, não é muito mais característico às entrelinhas?
Aceitar que nem sempre o parlimpsesto é possível. O sublinar se torna rotina. Cabe a nós então, procurar outra folha. Outro engodo que caracterize o novo espaço em branco. Sem esquecer, é claro, que os parlimpsestos estão ali. Nas páginas de trás e podem ser vistos, claramente através do desgaste no verso do papel virado.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

PINDOBA

Hoje, estava no ônibus, sentada, esmagada. De repente senti algo que esbarrou na minha mão e foi para trás. Como se nada tivesse acontecido, ignorei. Repetiu-se. Me dei conta de que era a Pindoba de um rapaz, meio moço, meio velho, bem gorda e esmagada numa calça jeans.
Me espremi no banco, sem querer invadir o espaço da minha companheira de assento, mesmo que já tivesse meu espaço avaçalado por aquele "montinho" que ia e vinha.
O ônibus parou. Desceu. Lá se foi a Pindoba gorda.

RETRATO PERDIDO

No teu retrato apenas tua boca. Teus olhos não me dizem nada. Tuas sobrancelhas, teu rosto, nada me importa. Teu nariz, até que é... engraçadinho, mas, tua boca não sei o que. arinho, desejo, audades...perda. Alívio.

DESABAFO

Nem faz tanto tempo assim, mas a sua voz já não me é mais familiar.
Esqueci do seu jeito, não lembro do seu rosto. Me lembro apenas da sua boca. Dos seus lábios, mas não do seu sorriso.
As vezes me pego chorando baixinho, pensando em pequenas coincidências, sentindo flashbacks passageiros, mas que dizem muito.
estou aliviada.
Já não abro mais os olhos por ti toda manhã. Mas, ainda faz parte de mim. Mais uma vez, as pequenas coincidências.
Tenho um certo medo, ou melhor, uma grande ansiedade, para que possa me entregar novamente. Será que um dia chegarei a amar outro alguém assim como amei você?
Amar cada detalhe do corpo teu. Cada defeito, cada cheiro. Já tive nojo de ti, sabias? Já escovei os dentes após beijar-te e ontem estava implorando por um beijo teu. Hoje, já não o quero mais. Ou, lá no âmago, talvez eu queira, não o beijo, mas uma realidade que não há. Nem deve haver.
Que o tempo seja perpétuo. Que nossa distância seja dura. Que meus suspiros sejam suaves. Que tua ausência seja um alívio. E, se um dia nos reencontrarmos que não seja mais especial.
Seremos estranhos, um ao outro. Até nascer uma amizade.

AUTO-RETRATO

Dê-me asas e saberei para onde ir
Tire-as de mim e as reconstituirei
Tudo está ao meu alcance
voarei alto
plainando e aproveitando a brisa nas horas incertas

Meu poder a mim pertence
minha fama ao meu suor
meu labor é meu regozijo
Tenho asas próprias. Estas, jamais morrerão.
Estão na mente e pulsam o coração